Elias percorreu o olhar pelo campo à sua frente. Era uma planície extensa, outrora um pasto onde o velho Valdo criava ovelhas, carneiros e cavalos. Centenas de cavalos. Os animais se foram, e a relva selvagem invadiu o campo, crescendo e espalhando-se até perder de vista. Elias semicerrou os olhos, buscando enxergar além do diâmetro habitual. Não conseguia lembrar-se se era manhã ou noite, se o sol se punha ou se antecedia a aurora. Ele apenas percebia aquela meia-luz, o campo fundindo-se com o horizonte, o solo coberto por uma luz azulada, fria.
Não havia movimento que indicasse a presença de nenhum ser vivo, exceto a relva que ondulava com o vento. Ele viu a formação rochosa adiante e correu naquela direção. Cada movimento exigia um enorme esforço. Sentia como se suas pernas estivessem presas, como se fossem puxadas para trás por uma força maior.
Conseguiu atingir o rochedo por fim, sentindo gotas de suor escaparem-lhe da testa e escorrer pelos lados do rosto. Escalou as pedras ásperas, chegando ao topo a tempo de ver sua presa escapando pela depressão em direção à floresta, onde estaria perdida para sempre. Ele saltou do rochedo involuntariamente, seus instintos liderando suas ações. Pôs-se de pé rapidamente, e sem tirar os olhos do vulto à frente, começou a correr em sua direção.
Agora suas pernas estavam leves, ele aproximava-se rapidamente de seu objetivo. Ele sentia que conseguiria alcançá-la, ela não chegaria à floresta. A percepção da iminente vitória lhe deu mais fôlego. Ele corria mais rápido do que antes, muito mais rápido do que o vulto à sua frente.
A poucos metros da entrada da floresta, ele a viu tropeçar e cair. Ele não queria que ela se ferisse. Elias continuou correndo no mesmo ritmo, e em poucos segundos chegou até ela. Caída, arfante, o peito subindo e descendo rapidamente sob o esforço para respirar. Ele ajoelhou-se ao lado dela, mas não conseguia ver seu rosto. Estava voltado para a floresta, oculto pela sombra das árvores e do capuz que usava. Ele fez menção de afastar o capuz. Não conseguia lembrar-se como era seu rosto.
Antes que o fizesse, porém, ouviu uma voz distante, conhecida, chamando seu nome. Ele não queria atender àquela voz, não podia. Irritou-se. Não queria ser interrompido agora. Ele voltou sua atenção para a mulher a seus pés, mas estava muito escuro agora, não havia quase luz e a voz que o chamava parecia aproximar-se. A voz estava atrás dele agora, insistente, chamando-o ao mesmo tempo em que ele mergulhava na escuridão.