Santiago – Parte 3, Caçada
Depois de Jack os monstros ficaram escassos em Londres. Santiago continuou sua vida nômade buscando vítimas em outras cidades pela Europa. No final daquela década passou uma temporada nos países do Norte, nas terras frias que muito lhe agradaram, aproveitando a última epidemia de peste bubônica.
Santiago nunca se alimentava de pessoas mortalmente doentes se pudesse evitar. A peste alterava o sabor do sangue como um tempero ruim, ou uma erva muito forte em um prato de sabor delicado, disfarçando o gosto do que realmente interessa. O alto índice de mortalidade por outro lado, era muito tentador. Ninguém reparava em uma morte a mais ou a menos naqueles dias, e uma morte repentina não era surpresa para ninguém.
Foi também em terras escandinavas onde ele finalmente encontrou-se com um semelhante. Autointitulado “Lorde” Jakob, era ao mesmo tempo adorado e temido por seus súditos que não mediam esforços para satisfazê-lo em todos os seus caprichos. Muitos eram os rumores de pessoas misteriosamente desaparecidas logo após causarem algum desgosto a Lorde Jakob, o qual obviamente tratava de negar e desmerecer tais relatos. Santiago não se demorou em seu castelo. A euforia inicial ao encontrar alguém da sua espécie logo se transformou em repulsa. Seus critérios de seleção eram muito diferentes dos de Santiago.
Havia rumores a respeito de criaturas sugadoras de sangue em outras partes do mundo por onde Santiago passou, mas ele foi perdendo o interesse ao longo dos anos. Não precisava de um bando. A liberdade da solidão lhe era bem-vinda, e a vida nômade o satisfazia enormemente.
Depois de muitos anos de expedições decidiu retornar a Londres. Avesso a fixar moradia, surpreendeu-se ao desejar demorar-se muito além do usual. Jamais havia permanecido em uma mesma cidade por um período maior do que algumas semanas, mas após dois meses em Londres, não fazia planos de partir tão cedo. Havia suas vantagens em fixar moradia, uma vez que a vida nômade não inclui o conforto entre seus atrativos.
Por outro lado, a inquietude sempre retorna eventualmente. Havia muitas outras cidades com índices de criminalidade muito mais altos do que Londres. Milhares e milhares de opções, mas isto não fazia diferença. Santiago se sentia atraído por esta cidade, atraído pelo clima frio, úmido e predominantemente nublado, o que o fazia sentir-se fortalecido, pois se tornava mais fácil sair durante o dia.
Até mesmo a história da cidade o fascinava. Lamentava que não houvesse mais assassinos como os de antigamente, pois adoraria ter conhecido Mary Tudor. Por um lado, imaginava que seu sangue devia ser asqueroso depois de tanto torturar e matar inocentes, mas ele certamente gostaria de ver a expressão no rosto dela quando visse seus olhos brilhando escarlate, antecipando o bote certeiro, quando olhasse seu rosto sobrenaturalmente pálido e percebesse que o destino tinha vindo finalmente reclamar sua alma degenerada e estabelecer o fim de sua insanidade.
E Sweeney Todd, o barbeiro demoníaco! Se realmente existiu de fato, Santiago adoraria tê-lo surpreendido no momento em que se preparava para matar algum cliente. Seu sangue devia estar pulsando freneticamente, cheio de adrenalina. Diferentemente de outras substâncias, o sabor da adrenalina deixa o sangue mais saboroso, mais fresco. É como curry, ou um outro tempero exótico, realça o sabor.
Para Santiago não era difícil conseguir uma descarga de adrenalina. Às vezes bastava esperar suas vítimas caírem no sono, para poder acordá-las subitamente antes de atacá-las. Imagine ser acordado no meio da madrugada por uma criatura demoníaca. É exatamente o tipo de reação que descarrega as maiores quantidades de adrenalina.
Não pense o leitor que Santiago era um vampiro sádico. Ele apenas gostava de fazer sofrer os que mereciam, desejava que sentissem o mesmo pavor, medo, desespero e dor que causaram a suas vítimas, uma forma de equilibrar a balança. Uma morte repentina não lhe parecia justo.
Também havia outro motivo que prendia Santiago a Londres. Uma policial de trinta e cinco anos que atendia pelo nome de Raquel.